Educação sem hipocrisias

Educação sem hipocrisias

Será que as famílias, na sua maioria, tem possibilidade de ter mais do que um mês de férias?

Haverá verdadeiramente uma Educação para todos?

Será que Escola é sinónimo de aulas?

E não será que na Escola, ponto de referência e de encontro não se pode desenvolver todo um conjunto de atividades cognitivas, letivas e não letivas, como as expressões, o desporto, a cultura e a cidadania?

E já agora deixemos a hipocrisia de lado, devem ser só as famílias com possibilidades financeiras e outras a ter a possibilidade de usufruir de um serviço de qualidade para cuidar dos seus filhos? Não o devemos proporcionar a todas as famílias e desde logo às com maiores necessidades? Tudo isto, com o devido rigor e com a necessária responsabilidade e respeito pela coisa pública.

Estamos a entrar num estado de letargia, em que as coisas vão acontecendo sem as questionarmos. Por isso quando se diz o que é óbvio, mas em que tudo parece ao contrário ficamos perturbados, reagimos sem refletir e nem paramos para pensar sobre os acontecimentos, ou pior, não queremos olhar para o lado e só nos interessa o Eu. Impera o egoísmo.

A CONFAP tem vindo a defender o funcionamento duma Escola que dê respostas adequadas aos objetivos a que se propõe e às necessidades das famílias e, assim, contribua de forma eficaz para a melhoria das aprendizagens e do bem-estar social de todos os cidadãos.

E o que é (deve ser) afinal a Escola?

Escola deve ser um projeto baseado numa missão e numa visão. Constitui-se de pessoas e de recursos para conseguir objetivos bem definidos e claros. Deve ser um projeto que se desenvolve com base num planeamento adequado e que se realiza ao longo dum tempo estabelecido e se avalia para permitir agir (melhorar) em prol do desenvolvimento pessoal e social. A Escola deve ser um misto de objetividade e de subjetividade, uma composição de material com imaterial e a complexidade do racional com o emocional. A Escola deve ser, por isso, uma estrutura e um espaço físico de recursos tangíveis e simultaneamente um espaço temporal com pessoas, ideias e projetos. Deve, na verdadeira aceção, ser uma Organização, é a organização que afirma e sustenta uma sociedade de gente sabedora e sociável.

Assim, para a CONFAP, urge reconhecer à Escola muito mais do que um espaço físico e do que um Tempo de aulas. A Escola não poder ser só um conjunto de programas, de alunos e de professores. A Escola hoje pede que se pense um conceito de tempo e espaço educativo, de encontro e de construção de equidade por via da igualdade de oportunidades para todas as crianças e para todos os jovens. Uma Escola onde todos são obrigados a estar (até aos 18 anos) exige-nos a possibilidade do social, do cognitivo, do talento, da mobilização, do gosto. Exige-nos a razão e a emoção. Exige-nos a liberdade de ser e de estar. Se queremos que todos lá estejam, se queremos que todos tenham a sua oportunidade, então construamos de facto essa oportunidade. Mas para que a Escola seja um fator de equilíbrio e de atenuação de diferenças sociais, tem de ser constituída por diferentes modelos que oferecem distintas respostas conforme os anseios e as necessidades dos cidadãos e das comunidades.

Tem de ser uma Escola de conhecimento, mas também de cultura, de desporto e de expressões como as artes. E tudo se pode fazer em tempos e com tempos.

Esta é (será?) a Escola que precisamos hoje de debater, de construir e de encontrar.

Por isso pensamos a Escola e o sistema educativo de forma holística como um processo integral na construção e no desenvolvimento social e cognitivo.

Não é possível continuar a discutir-se Educação de forma desagregada. Falar de Educação falando apenas de resultados, ou apenas de recursos ou só de avaliação, ou só de programas, ou só de currículos ou ainda exclusivamente de autonomia, não permite uma reflexão global e conjunta de toda a problemática educativa e da Escola.

A CONFAP na sua intervenção cívica e de cidadania, ao serviço da Educação, tem que estar essencialmente ao serviço das crianças e dos jovens. Tal desiderato impõe-nos que ousemos, que duvidemos, que ambicionemos desafiar, que divirjamos e assim possamos dar um contributo mais eficaz na evolução do sistema educativo.

Os resultados escolares, a situação socioeconómica das famílias e a preocupante evolução demográfica demonstram que precisamos refletir e debater o atual modelo de funcionamento (e não só) da Escola.

Não podemos assistir inativos a propostas de mais horas de aulas, de mais latim e grego ou, por outro lado, de mais férias sem se analisar todos os demais fatores do processo educativo. No meio de tudo isto onde fica a qualidade da aprendizagem? Onde ficam as necessidades das crianças e jovens? Onde fica, no meio de tudo isto, o contributo da Escola para melhor qualidade de ensino e para mais igualdade de oportunidades?

Não devemos considerar a possibilidade de uma nova Organização do Ano Letivo? Em que possamos distribuir com mais equidade todo o trabalho que a Escola precisa de desenvolver, desde da atividade letiva até à avaliação, passando pela atividade não letiva e pelas respostas social, cultural e desportiva?

Iniciar o plano no início de Setembro e terminar em Julho significará apenas um mês de férias. Não haverá capacidade para pensar diferente? Então os períodos de avaliação onde podem ser inseridos e com que finalidade? Então as pausas letivas, as atividades não letivas, o desporto, a cultura, as visitas de estudo?

Como é possível no século XXI querer-se ainda pensar Educação do século XVI? A quem interessa verdadeiramente?

Não devemos pensar se a resposta socioeducativa não deve ser planeada, realizada e avaliada considerando as necessidades das famílias, nomeadamente das mais fragilizadas?

Se queremos todos dentro do espaço escolar, não devemos ponderar se as soluções de trabalho que se oferecem são as adequadas para cada um? E se efetivamente temos os recursos ajustados às necessidades para se desenvolver o projeto educativo e alcançar os objetivos pretendidos?

Quereremos que o custo em Educação continue a ser pouco produtivo e por isso uma despesa, ou que este custo seja produtivo e então um investimento?

A CONFAP, em defesa das crianças e jovens e das suas famílias, particularmente das que têm mais dificuldades, não pactuaremos com alguma hipocrisia do sistema, verbalizando de que a Educação é para todos e na prática pouco ou nada fazer para possibilitar essa oportunidade, bem pelo contrário.

Pugnaremos para que todos, tanto quanto possível, possam ter a sua oportunidade. Pugnaremos também para que todos possam realizar as suas aprendizagens e desenvolver o seu crescimento na sua medida. Queremos que todos percebam a Escola, apreendam a vida escolar e aprendam de cordo com as suas capacidades e os seus talentos. É com este rigor e este espirito de serviço que estamos, porque acreditamos que só assim as crianças e jovens se sentirão mobilizados e estimulados para concretizarem o seu trabalho de aprender e de realizar.

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